top of page

Pequenas residências para idosos nos EUA oferecem ambiente mais parecido com uma casa


Muitas coisas parecem diferentes quando você entra em uma pequena clínica de repouso da Green House.


Nas Green Houses, os residentes têm mais independência e as instalações são menos institucionais --uma grande melhoria em relação à maioria dos lares de idosos

Imagem: Bryan Anselm/The New York Times

O luminoso espaço de estar e jantar, cheio de enfeites natalinos para essa temporada de festas. A cozinha aberta adjacente, onde a equipe está fazendo o almoço. Os quartos e banheiros privativos. A ausência de longos corredores frios, carrinhos de medicamentos e outros elementos que se assemelham de alas hospitalares.

Eu estava visitando a Green House Homes em Green Hill, centro de assistência médica contínua em West Orange, Nova Jersey, Estados Unidos. Dorothy Bagli, 91 anos, me mostrou seu quarto, com vista para o jardim e cheio de obras de arte de casa e fotos dos netos; seu filho é repórter do New York Times.

"Eu conheci a maioria das pessoas que vivem aqui", disse ela - uma tarefa mais fácil quando há apenas 10 residentes.

"É muito íntimo", concordou Eleanor Leonardis, que se recusou a dar a idade e está se recuperando de uma queda desagradável. "Parece muito com a casa", continuou.

Imagem: Bryan Anselm/The New York Times


Profissionais, amigos e familiares cantam canções de Natal para moradores em uma Green House.

Mas o que mais me impressionou foi um homem sentado sozinho na mesa comum, com o café da manhã com aveia - ao meio dia. A equipe sabe que ele não gosta de se levantar ou comer no início do dia.

Em casas de repouso tradicionais, os funcionários têm de correr para tirar os moradores da cama, ajudar a se vestir, acompanhá-los à sala de jantar quando o café for servido e, talvez, conduzi-los à fisioterapia. Lugares assim sofrem para garantir um mínimo de autonomia pessoal.

Aqui, se os fisioterapeutas chegam ao Green House Homes e o residente ainda está dormindo, retornam mais tarde.

O Projeto Green House, que em 2003 abriu seus primeiros pequenos lares em Tupelo, Mississippi, conta com apenas 242 casas licenciadas em 32 estados até agora, com mais 150 em vários estágios de planejamento ou construção; a seguir: Bartlett, Tennessee, Lima, Ohio, e Little Rock, Arkansas.

Essa é apenas uma gota no oceano entre as mais de 15 mil lares para idosos no EUA. No entanto, poucos aspectos do envelhecimento geram tanto horror antecipado como "asilos", por isso as Green Houses tem atraído uma atenção desproporcional, incluindo a cobertura da imprensa.

"Os números ainda são modestos, mas é realmente um modelo diferente de cuidados", disse Sheryl Zimmerman, gerontologista e pesquisadora de serviços de saúde da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill.

Isso ainda não estava claro, até que Zimmerman e uma equipe de pesquisadores em todo o país realizaram uma pesquisa mais abrangente sobre o formato e sobre como os novatos estavam se saindo. "O modelo funciona?", ela questiona. "É sustentável e pode ser reproduzido?"

O estudo do grupo de quase 100 Green Houses em comparação com Instituições de Longa Permanência (ILPIs) comuns, financiado por uma doação de US$ 2 milhões da Fundação Robert Wood Johnson e publicado na revista Health Services Research, mostrou que as Green Houses não cumprem todos os seus objetivos e promessas.

Embora o "controle sobre os ritmos do dia" represente um pilar da vida da Green House, como declara um de seus folhetos, os pesquisadores descobriram que cerca de um terço das casas não permitia que os residentes decidissem a hora de acordar ou tomar banho. Em comparação com os lares de idosos convencionais, a Green House também é muito menos propensa a oferecer atividades.


Imagem: Bryan Anselm/The New York Times

Contudo, no geral, o estudo, que engloba nove anos de dados, termina com uma nota positiva. "Comparadas às clínicas tradicionais, sem dúvida, é um modelo preferível de atendimento", afirma Zimmerman.

Entre os motivos:

- Green Houses pratica o que se chama "atribuição consistente", o que significa que os mesmos auxiliares cuidam dos mesmos grupo de residentes. "As pessoas conhecem você. Eles sabem exatamente do que gosta ou não", diz Zimmerman. "Há mais confiança e familiaridade. Os relacionamentos se desenvolvem".

Um auxiliar (na linguagem Green House, um shahbaz) que conhece bem os moradores também é mais capaz de detectar problemas de saúde logo no início. "Como os funcionários estão em contato mais próximo e contínuo, estão mais cientes de mudanças nas condições dos residentes", afirma Zimmerman.

Um shahbaz da Green House gasta muito mais horas em cuidados ao residente: uma média de 4,2 horas por residente por dia, em comparação com 2,2 horas em lares de idosos convencionais, incluindo tarefas como preparar refeições e lavar roupas.

- Em comparação com os residentes em lares de idosos tradicionais, os residentes da Green House melhoraram em três dos oito critérios federais de inspeção e tiveram boas notas nos demais critérios. Os pesquisadores descobriram que os residentes da Green House eram 16% menos propensos a serem acamados, 38% menos propensos a terem escaras (úlceras por pressão) e 45% menos propensos a terem cateteres. As internações evitáveis ​​e as readmissões também eram menores mais, tranquilizando aqueles que se perguntavam se a ênfase da Green House na qualidade de vida significava sacrificar a qualidade dos cuidados.

- Embora as Green Houses sejam caras de construir (incluindo um pagamento de US$ 200.000 para o Projeto Green House sem fins lucrativos para treinamento, design e suporte), com custos operacionais de 8% mais altos do que os lares de idosos padrão, eles economizam 30% do Medicare (seguro saúde para idosos) por residente por ano. No entanto, eles cobram um pouco mais dos residentes ou de suas seguradoras, comparadas às residências regulares.

Os construtores também parecem capazes de adaptá-los a populações específicas. Eles construíram Green Houses para vida assistida, para veteranos de guerra, para uma agência de conjuntos habitacionais, para pessoas com demência e esclerose múltipla.

A empresa também incorpora o tratamento a pacientes terminais. "Nós nos esforçamos muito para dizer, 'Este é um lar para a vida'", disse Susan Ryan, diretora sênior do Projeto Green House. Ela está incomodada com a lentidão com que o modelo se espalha, em parte por causa das complexas regras estaduais e dos obstáculos financeiros.

Críticos que lamentam o estado das clínicas de repouso nos Estados Unidos têm pedido uma "mudança cultural" há pelo menos 20 anos. Isso significa "desinstitucionalizar as casas de repouso, deixá-las mais parecidas com o modo como vivemos, com nossas próprias rotinas e objetos familiares", afirma Robyn Grant, diretora de política pública da National Consumer Voice for Quality Long-Term Care.

Até agora só houve progressos modestos neste sentido, diz Grant. Então, talvez uma função do modelo Green House seja apontar o caminho.

Para Grant, "existem muitos elementos que poderiam ser adotados por outras clínicas geriátricas. Existem maneiras de reduzir o tamanho e torná-las menores", com funcionários sempre designados a um grupo de residentes. As instalações poderiam ser reformadas para oferecer quartos particulares e dar mais voz aos residentes sobre suas rotinas.

Em Green Hill (uma revelação: meu falecido pai morou ali durante um ano e meio, mas não em uma Green House), a família de Dorothy Bagli discutiu se deveriam transferi-la para a uma clínica de repouso tradicional, com custos um pouco menores. Todavia, Jeanne Jenusaitis, uma de seus 12 filhos, pensa que a escala menor da Green House se adapta melhor à mãe.

Será que a mãe, que tem demência, não iria se perder tentando achar o caminho pelos longos corredores de uma clínica? Será que um funcionário estaria sempre de prontidão para aplacar seus medos?

Para Jenusaitis, sua Green House "parece muito pouco com uma casa de repouso. Ela gosta da sensação de estar em casa".


Posts Recentes
bottom of page